Apoio psicológico para tentantes. Como a psicoterapia pode ajudar?
Quando falamos em saúde, a compreensão do ser humano como um todo é essencial. Nem só corpo, nem só mente: mas um amálgama complexo e interdependente de mente, corpo, emoções, relações, contexto-social e herança genética. É assim que precisamos olhar para uma pessoa a fim de propor intervenções efetivas para promoção de saúde e qualidade de vida. Em se tratando de mulheres que experimentam o processo de fertilização assistida, essa postura é grifadamente fundamental. Nesse corpo que se prepara para gerar vida, habita uma mente que teme e não se cala; emoções conflitantes; relações que muitas vezes não compreendem na totalidade esse processo ou que não sabem como se posicionar para oferecer auxílio profícuo. A ciência da infertilidade ou da dificuldade de engravidar de forma natural é para a mulher uma morte. Morte de expectativas que muitas vezes nutre desde a tenra infância. Morte da sequência “natural” que acreditamos que a vida deveria ter. É morte. É medo. É frustração. Sentimentos que se encerram em uma pergunta sem resposta “por que comigo?”. O chão some dos pés. A respiração não capta ar. A garganta sente o pulsar do choro. O coração é visitado por uma navalha gelada, parte-se. O casal que está passando por esta situação vivencia ainda uma série de cobranças sociais, que vem da própria família, de amigos, de colegas de trabalho. É como se estivessem quebrando uma regra por ainda não terem conseguido engravidar. Quando escolhem iniciar um tratamento para engravidar, inicia-se uma nova e exaustiva maratona de exames, consultas médicas, tentativas de fertilização. São muitas informações e cada um tem uma opinião diferente que vai deixando o casal em parafuso. Como não ficar com medo? Viver essa experiência afeta a vida do casal em toda a sua amplitude, como um contexto gerador de muita ansiedade e sofrimento. Na maioria dos casos, as mulheres têm um nível de cobrança em todas estas situações em níveis mais elevados que os seus parceiros, devido ainda ao papel social que a mulher tem em nossa cultura, com o “dever” de ser mãe para ser uma mulher completa. São elas também que demonstram mais enfrentamento emocional frente a este contexto. Quanto isso é vivido por mulheres que já tinham previamente sintomas de ansiedade ou depressão é comum que ela passe a se isolar, afastando-se de familiares e amigos, evitando eventos em que poderiam encontrar pessoas grávidas, que falem sobre isso ou tenham filhos pequenos. Assim, a vida dessa mulher vai se restringindo cada vez mais aos tratamentos, busca de informações, planos para engravidar. Diante disso, de que forma o acompanhamento psicológico pode ajudar? O apoio psicológico e de outras abordagens terapêuticas complementares, como yoga, acupuntura e meditação é imprescindível no acompanhamento da mulher com infertilidade e, de forma ideal, no acompanhamento do casal. Trago aqui o relato de uma paciente que reitera a eficácia do processo psicoterapêutico aliado ao tratamento de fertilizaçãoo in vitro que realizou: “Com o acompanhamento psicológico consegui perceber e sentir muitas POSSIBILIDADES diante de tantas IMpossibilidades, INcertezas, INfertilidade e INcapacidades. Redescobri que sou mulher, sou filha, sou cidadã, sou profissional, sou esposa, sou eu com muitas possibilidades. A terapia me ajudou a compreender que existem muitas formas de me sentir viva, de poder amar e de viver. Que a condição de não conseguir engravidar naturalmente, não me faz ser menos ou INcompleta. Hoje sou uma pessoa mais fortalecida”. O principal objetivo do atendimento psicológico é oferecer um local seguro onde as mulheres sintam-se apoiadas para encarar os desafios inúmeros que essa jornada traz. Um local onde sintam-se verdadeiramente compreendidas, vistas, ouvidas na essência para que possam olhar para suas próprias vidas, possibilitando que sejam ativas em suas melhoras e mudanças. No processo elas terão ajuda para lidar com as frustrações, trabalhar suas expectativas, reduzir a ansiedade e estresse, suportar os medos e nutrir a persistência para que possam atuar proativamente sobre as circunstâncias que lhes compelem ação, e resiliência para suportar o que não for passível de mudança. Como fora dito no início do texto, para toda mulher que sonha com a maternidade, a notícia de que isso talvez não será possível, ou então, não tão fácil, é uma experiência de morte. Morte de um futuro que não está mais disponível da forma como se arquitetara. Todavia, é também, diante da morte das possibilidade que conhecemos que podemos nos abrir para um mundo de possibilidades nunca antes imaginadas, que jamais seriam possíveis se tudo tivesse acontecido como a gente sempre quis. Encerro aqui com os dizeres de uma sábia amiga: “Para que uma estrela nasça, é preciso que uma nebulosa entre em colapso. Exploda. Faça tudo desmoronar. A vida não está te destruindo. Ela está fazendo você nascer” HH Thayane Leonardi Psicóloga e psicoterapeuta integrativa sistêmica.Sócia-fundadora do Insituto de Desenvolvimento Humano ConheSER. Especialista em Psicologia Analítica. Pós Graduada em Psicologia Familiar Sistêmica e Psicologia positiva. Possui formação em terapias complementares como Terapia Floral, Hipnsose Ericksoniana, mestrado em Reiki Usui, Constelações Familiares e Programação Neuro Linguística (PNL) (41) 99903-8061 thayaneleonardi@gmail.com
Por que tantas mulheres têm vergonha de falar sobre infertilidade?
Bem sabemos que as mulheres têm lutado cada vez mais para conquistar espaços e desnaturalizar comportamentos e tarefas que eram compreendidas como exclusivamente femininas ou masculinas. Assim, começamos a ver o mundo se transformar, ainda que a passos lentos: pais que ficam em casa, cuidando dos filhos, enquanto as mães trabalham; dividem-se igualmente os serviços de cuidado com o lar; mulheres assumem cargos políticos e de chefia, antes confiados apenas aos homens, e por aí vai. Apesar de todo esse movimento, a feminilidade e a identidade de gênero continuam a ser associadas à capacidade de tornar-se mãe. Diante de uma situação de infertilidade, é comum, portanto, que as mulheres ainda se sintam estigmatizadas. Muitas pessoas constroem projetos de vida envolvendo a maternidade, por diversos motivos; para algumas, é até mesmo a realização de um sonho, construído desde a infância. Deparar-se, pois, com a incapacidade de trazer à vida (ainda que temporária) pode colocar em questão, muitas vezes, o próprio modo de ser mulher, interromper projetos e desencadear sentimentos de inadequação, incompetência, fracasso e insegurança. Tomadas por esse emaranhado de emoções, frequentemente confusas e arrebatadoras, muitas mulheres temem se expor, envergonhadas, evitam falar do assunto e acabam se afastando, com receio dos julgamentos que podem receber. O problema é que o silenciamento gera cada vez mais silenciamento. Ao se isolarem, apesar de evitar que lhes cheguem comentários indesejáveis, as mulheres perdem também a oportunidade de se expressar, de trocar ideias e falar de suas angústias – o que é indispensável para que possam dar sentidos novos às experiências e para que se fortaleçam para enfrentar as dificuldades. Frequentemente, é nesses momentos de solidão que mora o risco de essa tristeza transformar-se em ansiedade e depressão, fazendo crescer ainda mais o sofrimento. Diante desse quadro, proponho dois movimentos: primeiro, convoco as pessoas a ouvirem e darem suporte a essas mulheres. Escutem o que elas têm para dizer. Na maioria das vezes, elas só precisam de alguém que esteja com elas verdadeiramente e as ouça no seu sofrimento, que se faça presença genuína e que se disponibilize a acompanhá-las com parceria e companheirismo. Segundo movimento: convido as mulheres a experimentarem falar da infertilidade. Possivelmente a vergonha vai desaparecendo à medida que vocês se expressam e vão entendendo que o fato de terem um problema – na maioria das vezes passível de solução – não faz de vocês um problema. Acreditem, sua condição é provavelmente mais comum do que vocês imaginam e é muito possível que, em um diálogo franco, vocês também descubram como há diferentes e possíveis saídas para essa dificuldade. E não se esqueçam: ajuda médica e psicológica são também de grande valia para passar por esse processo com mais confiança e leveza. Jenifer Demeterco CRP 08/19793 Psicóloga clínica, especialista em Gestalt-terapia e mestranda em Psicologia pela UFPR, realiza atendimentos a adolescentes e adultos. É mãe de duas meninas lindas, espertas e cheias de energia, que chegaram ao mundo depois de um tratamento para infertilidade. Agora, espera poder ajudar outras pessoas a enfrentarem essa situação. Amante das artes desde pequenininha, diverte-se no teatro e acredita que a arte e a psicologia podem, e devem, andar de mãos dadas. +55 41 99145-5574 jeniferdemeterco@gmail.com